tradução caseira da lebre
ela despe-se no paraíso
da sua memória
ela desconhece o destino feroz
das suas visões
ela tem medo de não saber nomear
o que não existe
Alejandra Pizarnik
Thursday, December 11, 2008
Thursday, November 27, 2008
Monday, October 27, 2008
tradução caseira da lebre
a vida brinca na praça
com o ser que nunca fui
e aqui estou
dança pensamento
na corda do meu sorriso
e todos dizem que isto passou e é
vai passando
vai passando
o meu coração abre a janela
vida aqui estou
a minha vida
o meu sangue só e hirto
fere no mundo
mas quero saber-me viva
mas não quero falar
de morte
nem das suas estranhas mãos
Alejandra Pizarnik
a vida brinca na praça
com o ser que nunca fui
e aqui estou
dança pensamento
na corda do meu sorriso
e todos dizem que isto passou e é
vai passando
vai passando
o meu coração abre a janela
vida aqui estou
a minha vida
o meu sangue só e hirto
fere no mundo
mas quero saber-me viva
mas não quero falar
de morte
nem das suas estranhas mãos
Alejandra Pizarnik
Monday, October 6, 2008
tradução caseira da lebre
O que é a realidade?
Sou uma boneca de gesso, eu poso
com olhos que abrem sem horizonte ou anoitecer
para pessoas envernizadas a sorrir,
olhos que abrem e fecham, azuis aço.
Sou uma espécie de transplante de I . Magnin?
Tenho cabelo, anjo preto,
recheio de anjo-preto para pentear,
pernas de nylon, braços luminosos
e algumas roupas dos anúncios.
Vivo numa casa de bonecas
com quatro cadeiras,
uma mesa de imitação, um telhado plano
e uma grande porta de entrada.
Muitos chegaram a esta encruzilhada tão pequena.
Há uma cama de ferro,
(a vida alarga, a vida faz pontaria)
um chão de cartão,
janelas que se escancaram para a cidade de alguém,
e pouco mais.
Alguém brinca comigo,
planta-me numa cozinha toda eléctrica
Foi isto que a Sra. Rombauer disse?
Alguém finge comigo -
estou emparedada em sólido pelo seu barulho -
uu põem-me em cima da sua cama arrumada.
Eles acham que eu sou eu!
O calor deles? O calor deles não é um amigo!
Eles forçam a minha boca para os seus copos de gin
e para o seu pão rançoso.
O que é a realidade
para esta boneca sintética
que devia sorrir, que devia meter as mudanças
que devia escancarar as portas numa desordem sadia
sem evidencias de ruínas ou medos?
Mas eu choraria
enraizada na parede que
em tempos já foi minha mãe
se me lembrasse como
e se eu tivesse lágrimas.
Anne Sexton
O que é a realidade?
Sou uma boneca de gesso, eu poso
com olhos que abrem sem horizonte ou anoitecer
para pessoas envernizadas a sorrir,
olhos que abrem e fecham, azuis aço.
Sou uma espécie de transplante de I . Magnin?
Tenho cabelo, anjo preto,
recheio de anjo-preto para pentear,
pernas de nylon, braços luminosos
e algumas roupas dos anúncios.
Vivo numa casa de bonecas
com quatro cadeiras,
uma mesa de imitação, um telhado plano
e uma grande porta de entrada.
Muitos chegaram a esta encruzilhada tão pequena.
Há uma cama de ferro,
(a vida alarga, a vida faz pontaria)
um chão de cartão,
janelas que se escancaram para a cidade de alguém,
e pouco mais.
Alguém brinca comigo,
planta-me numa cozinha toda eléctrica
Foi isto que a Sra. Rombauer disse?
Alguém finge comigo -
estou emparedada em sólido pelo seu barulho -
uu põem-me em cima da sua cama arrumada.
Eles acham que eu sou eu!
O calor deles? O calor deles não é um amigo!
Eles forçam a minha boca para os seus copos de gin
e para o seu pão rançoso.
O que é a realidade
para esta boneca sintética
que devia sorrir, que devia meter as mudanças
que devia escancarar as portas numa desordem sadia
sem evidencias de ruínas ou medos?
Mas eu choraria
enraizada na parede que
em tempos já foi minha mãe
se me lembrasse como
e se eu tivesse lágrimas.
Anne Sexton
Sunday, October 5, 2008
tradução caseira da lebre
Isto foi um erro,
estes braços e pernas
que já não funcionam
agora está partido
sem espaço para desculpas.
A terra não conforta,
Apenas cobre
Se tiveres a decência de ficar quieto
O sol não perdoa,
Olha e continua a andar.
A noite infiltra-se em nós
através dos acidentes que
provocámos um ao outro
da próxima vez que cometermos
amor, devemos
escolher primeiro o que matar.
Margaret Atwood
Isto foi um erro,
estes braços e pernas
que já não funcionam
agora está partido
sem espaço para desculpas.
A terra não conforta,
Apenas cobre
Se tiveres a decência de ficar quieto
O sol não perdoa,
Olha e continua a andar.
A noite infiltra-se em nós
através dos acidentes que
provocámos um ao outro
da próxima vez que cometermos
amor, devemos
escolher primeiro o que matar.
Margaret Atwood
Wednesday, October 1, 2008
Monday, September 1, 2008
tradução caseira da lebre
Falo como em mim se fala. Não a minha voz destinada a parecer uma voz humana mas sim a outra que testemunha que não deixei de morar no bosque.
Alejandra Pizarnik
Falo como em mim se fala. Não a minha voz destinada a parecer uma voz humana mas sim a outra que testemunha que não deixei de morar no bosque.
Alejandra Pizarnik
Monday, July 7, 2008
tradução caseira da lebre
Mais nenhuma foto
Mais nenhuma foto, de certeza que há suficientes. Mais nenhuma sombra de mim atirada pela luz para pedaços de papel, para quadrados de plástico. Mais nenhuns dos meus olhos, bocas, narizes, humores, maus ângulos. Mais nenhuns bocejos, dentes, rugas. Eu sofro da minha própria multiplicidade. Duas ou três imagens teriam sido suficientes ou quatro ou cinco. Isso teria permitido uma ideia firme. Isto é ela. Assim, sou aguada, enrugo, de momento em momento dissolvo-me nos meus outros eus. Vira a página: tu, a olhar, estás novamente confuso. Conheces-me bem demais para me conhecer. Ou, não bem demais: a mais.
Margaret Atwood
Mais nenhuma foto
Mais nenhuma foto, de certeza que há suficientes. Mais nenhuma sombra de mim atirada pela luz para pedaços de papel, para quadrados de plástico. Mais nenhuns dos meus olhos, bocas, narizes, humores, maus ângulos. Mais nenhuns bocejos, dentes, rugas. Eu sofro da minha própria multiplicidade. Duas ou três imagens teriam sido suficientes ou quatro ou cinco. Isso teria permitido uma ideia firme. Isto é ela. Assim, sou aguada, enrugo, de momento em momento dissolvo-me nos meus outros eus. Vira a página: tu, a olhar, estás novamente confuso. Conheces-me bem demais para me conhecer. Ou, não bem demais: a mais.
Margaret Atwood
Wednesday, July 2, 2008
tradução caseira da lebre
O coração morto
Não é uma tartaruga
Escondida na sua pequenina carapaça verde.
Não é uma pedra para pegar
e por debaixo da tua asa preta.
Não é uma carruagem antiquada de metro.
Não é um pedaço de carvão que tu podes acender.
É um coração morto.
Está dentro de mim.
É um estranho
mas já foi afável,
abrindo e fechando como uma amêijoa
O que me custou, tu não podes imaginar
psis, padres, amantes, filhos, maridos,
amigos e tudo o resto.
O quão caro que foi continuar.
Também devolveu
Não o negues.
Quase que me pergunto se Abril o poderia devolver à vida
Uma tulipa? O primeiro botão?
Mas esses são apenas devaneios meus
a pena que se tem apenas quando se olha para um cadáver.
Como é que ele morreu?
Chamei-lhe MALVADO
disse-lhe, os teus poemas tresandam como vómito.
Não fiquei para ouvir a última frase.
Morreu na palavra MALVADO.
Eu fiz isso com a minha língua.
A língua, dizem os chineses
é como uma faca afiada
mata sem derramar sangue.
Anne Sexton
O coração morto
Não é uma tartaruga
Escondida na sua pequenina carapaça verde.
Não é uma pedra para pegar
e por debaixo da tua asa preta.
Não é uma carruagem antiquada de metro.
Não é um pedaço de carvão que tu podes acender.
É um coração morto.
Está dentro de mim.
É um estranho
mas já foi afável,
abrindo e fechando como uma amêijoa
O que me custou, tu não podes imaginar
psis, padres, amantes, filhos, maridos,
amigos e tudo o resto.
O quão caro que foi continuar.
Também devolveu
Não o negues.
Quase que me pergunto se Abril o poderia devolver à vida
Uma tulipa? O primeiro botão?
Mas esses são apenas devaneios meus
a pena que se tem apenas quando se olha para um cadáver.
Como é que ele morreu?
Chamei-lhe MALVADO
disse-lhe, os teus poemas tresandam como vómito.
Não fiquei para ouvir a última frase.
Morreu na palavra MALVADO.
Eu fiz isso com a minha língua.
A língua, dizem os chineses
é como uma faca afiada
mata sem derramar sangue.
Anne Sexton
Wednesday, May 28, 2008
tradução caseira da lebre
Triste quando desejo e quando não. Triste quando com um corpo e quando não. Triste quando com o seu sorriso e quando não.
Alejandra Pizarnik
Triste quando desejo e quando não. Triste quando com um corpo e quando não. Triste quando com o seu sorriso e quando não.
Alejandra Pizarnik
Thursday, May 8, 2008
Monday, April 21, 2008
tradução caseira da lebre
eu uno-me ao silêncio
eu uni-me ao silêncio
e eu deixo-me fazer
deixo-me beber
deixo-me dizer
Alejandra Pizarnik
obrigada martinha
eu uno-me ao silêncio
eu uni-me ao silêncio
e eu deixo-me fazer
deixo-me beber
deixo-me dizer
Alejandra Pizarnik
obrigada martinha
Monday, April 14, 2008
tradução caseira da lebre
(...)
Sou rainha de todos os meus
pecados esquecidos. Ainda estou perdida?
Em tempos fui bonita. Agora sou eu própria
Anne Sexton
(...)
Sou rainha de todos os meus
pecados esquecidos. Ainda estou perdida?
Em tempos fui bonita. Agora sou eu própria
Anne Sexton
Thursday, April 10, 2008
Tuesday, April 1, 2008
tradução caseira da lebre
ser sonhadora na sua camisa azul
que ama a terra estranha
ou atrever-me como a naufraga
que volta ao mar
porque ninguém se alegra
com a sua salvação
Alejandra Pizarnik
ser sonhadora na sua camisa azul
que ama a terra estranha
ou atrever-me como a naufraga
que volta ao mar
porque ninguém se alegra
com a sua salvação
Alejandra Pizarnik
Tuesday, March 25, 2008
tradução caseira da lebre
Aqui tudo é amarelo e verde.
Ouçam a sua garganta e a sua pele de terra,
a voz completamente seca dos pimentos
enquanto eles palpitam como anúncios.
Os pequenos animais do bosque
estão a levar as suas máscaras funerárias
para uma estreita caverna de Inverno.
O espantalho arrancou
os seus dois olhos como diamantes
e caminhou para a aldeia.
O general e o carteiro
tiraram as suas mochilas.
Tudo isto já aconteceu antes
mas nada aqui é obsoleto.
Tudo aqui é possível.
Por causa disto talvez uma jovem rapariga tenha despido
as suas roupas de Inverno e sentou-se
ao acaso num ramo de árvore
que está por cima de um lago no rio.
Ela foi vertida para o ramo,
rente à casa dos peixes
enquanto eles nadam para dentro e para fora do seu reflexo
e para cima e para baixo das escadas das suas pernas.
O seu corpo leva as nuvens até casa.
Ela está a olhar para a sua cara feita de água
no rio onde os homens cegos
vêm tomar banho ao meio dia .
Por causa disto
o chão, esse pesadelo de Inverno
curou as suas chagas e rebentou
com pássaros verdes e vitaminas.
Por causa disto
as arvores entregam as suas valas
e seguram pequenas chávenas de chuva
com os seus dedos esguios.
Por causa disto
uma mulher está ao pé do seu fogão
a cantar e a cozinhar flores.
Tudo aqui é amarelo e verde.
Com certeza que a Primavera vai permitir
que uma rapariga nua
se vire suavemente na sua luz solar
e não tenha medo da sua cama.
Ela já contou seis
flores no seu espelho verde verde.
Dois rios fundem-se debaixo dela.
A cara da criança enruga-se
na água e desaparece para sempre.
A mulher é tudo o que pode ser visto
na sua beleza animal.
A sua pele acarinhada e obstinada
permanece profundamente debaixo da árvore feita de água.
Tudo aqui é completamente possível
e os homens cegos também podem ver.
Anne Sexton
Aqui tudo é amarelo e verde.
Ouçam a sua garganta e a sua pele de terra,
a voz completamente seca dos pimentos
enquanto eles palpitam como anúncios.
Os pequenos animais do bosque
estão a levar as suas máscaras funerárias
para uma estreita caverna de Inverno.
O espantalho arrancou
os seus dois olhos como diamantes
e caminhou para a aldeia.
O general e o carteiro
tiraram as suas mochilas.
Tudo isto já aconteceu antes
mas nada aqui é obsoleto.
Tudo aqui é possível.
Por causa disto talvez uma jovem rapariga tenha despido
as suas roupas de Inverno e sentou-se
ao acaso num ramo de árvore
que está por cima de um lago no rio.
Ela foi vertida para o ramo,
rente à casa dos peixes
enquanto eles nadam para dentro e para fora do seu reflexo
e para cima e para baixo das escadas das suas pernas.
O seu corpo leva as nuvens até casa.
Ela está a olhar para a sua cara feita de água
no rio onde os homens cegos
vêm tomar banho ao meio dia .
Por causa disto
o chão, esse pesadelo de Inverno
curou as suas chagas e rebentou
com pássaros verdes e vitaminas.
Por causa disto
as arvores entregam as suas valas
e seguram pequenas chávenas de chuva
com os seus dedos esguios.
Por causa disto
uma mulher está ao pé do seu fogão
a cantar e a cozinhar flores.
Tudo aqui é amarelo e verde.
Com certeza que a Primavera vai permitir
que uma rapariga nua
se vire suavemente na sua luz solar
e não tenha medo da sua cama.
Ela já contou seis
flores no seu espelho verde verde.
Dois rios fundem-se debaixo dela.
A cara da criança enruga-se
na água e desaparece para sempre.
A mulher é tudo o que pode ser visto
na sua beleza animal.
A sua pele acarinhada e obstinada
permanece profundamente debaixo da árvore feita de água.
Tudo aqui é completamente possível
e os homens cegos também podem ver.
Anne Sexton
Monday, March 24, 2008
tradução caseira da lebre
faço a minha cabeça, como costumava
de um saco de papel,
puxo-o até ao colarinho
desenho olhos à volta dos meus olhos
com picos roxos e verdes
para mostrar surpresa,
um nariz com forma de polegar
uma boca à volta da minha boca
esboçada pelo toque, e depois colorida
a vermelho mortiço.
com esta cabeça nova, o corpo
esticado como uma meia e exausto
poderia dançar outra vez; e se eu fizesse
uma língua, eu poderia cantar
um lençol velho e é Halloween;
mas porque é que pior ou mais assustadora
esta cara de cabeça de alfinete
de cabelo quadrado e sem queixo?
como um idiota, não tem passado
e está sempre a entrar no futuro
através das frestas de olhos, miope
e às apalpadelas com o seu grande sorriso,
um tentáculo de eterna felicidade
cabeça de papel, prefiro-te
por causa do teu vazio;
de dentro de ti qualquer
palavra ainda pode ser dita.
contigo eu poderia ter
mais do que uma pele,
um interior em branco, um reportório
de histórias por contar.
Um novo começo.
Margaret Atwood
faço a minha cabeça, como costumava
de um saco de papel,
puxo-o até ao colarinho
desenho olhos à volta dos meus olhos
com picos roxos e verdes
para mostrar surpresa,
um nariz com forma de polegar
uma boca à volta da minha boca
esboçada pelo toque, e depois colorida
a vermelho mortiço.
com esta cabeça nova, o corpo
esticado como uma meia e exausto
poderia dançar outra vez; e se eu fizesse
uma língua, eu poderia cantar
um lençol velho e é Halloween;
mas porque é que pior ou mais assustadora
esta cara de cabeça de alfinete
de cabelo quadrado e sem queixo?
como um idiota, não tem passado
e está sempre a entrar no futuro
através das frestas de olhos, miope
e às apalpadelas com o seu grande sorriso,
um tentáculo de eterna felicidade
cabeça de papel, prefiro-te
por causa do teu vazio;
de dentro de ti qualquer
palavra ainda pode ser dita.
contigo eu poderia ter
mais do que uma pele,
um interior em branco, um reportório
de histórias por contar.
Um novo começo.
Margaret Atwood
Thursday, March 6, 2008
diz que não sabe do medo da morte do amor
diz que tem medo da morte do amor
diz que o amor é morte é medo
diz que a morte é medo é amor
diz que não sabe
Alejandra Pizarnik
diz que tem medo da morte do amor
diz que o amor é morte é medo
diz que a morte é medo é amor
diz que não sabe
Alejandra Pizarnik
Vem embora comigo, disse ele, vamos viver numa ilha deserta. Eu disse, eu sou uma ilha deserta. Não era o que ele tinha em mente.
Margaret Atwood
Margaret Atwood
Monday, March 3, 2008
tradução caseira da lebre
Para o ano dos loucos
uma oração
Ó Maria, frágil mãe,
ouve-me, ouve-me agora
embora eu desconheça as tuas palavras.
O rosário negro com o seu Cristo de prata
permanece por benzer na minha mão
porque eu sou a descrente.
Cada conta redonda e dura entre
os meus dedos,
um pequeno anjo preto.
Ó Maria concede-me esta graça,
esta passagem,
embora eu seja feia,
submersa no meu próprio passado
e na minha própria loucura.
Embora haja cadeiras
eu estendo-me no chão.
Apenas as minhas mãos estão vivas,
a tocar contas,
palavra a palavra, eu tropeço.
Uma iniciada, sinto a tua boca tocar a minha.
Conto contas como ondas,
a baterem sobre mim,
estou doente com o seus números,
doente, doente, no calor do verão
e a janela por cima de mim
é a minha única ouvinte, o meu ser estranho
ela é uma larga recebedora, uma mitigadora.
A dadora de respiração
ela murmura,
exalando o seu largo pulmão como um peixe enorme.
Cada vez mais perto
vem a hora da minha morte,
enquanto eu rearranjo a minha cara, volta a crescer,
cresce por desenvolver e com o cabelo liso.
Tudo isto é morte.
Na memória há um beco estreito chamado morte
E eu movo-me nele
como se fosse água .
O meu corpo não tem utilidade.
Jaz, enrolado como um cão na carpete.
Desistiu.
Não há palavras aqui senão as meio aprendidas,
o Avé Maria e o cheia de graça.
Agora entrei no ano sem palavras.
Anoto a entrada estranha e a voltagem certa.
Sem palavras elas existem.
sem palavras podemos tocar no pão
e ser-nos-á entregue pão
sem som.
Ó Maria, terna médica
vem com pós e ervas
Porque eu estou no centro.
É muito pequeno e o ar é cinzento
como numa casa de maquinas.
Dão-me vinho como dão leite a uma criança.
É apresentado num copo delicado com um bojo redondo e uma borda fina.
O vinho tem cor de breu, bafiento e secreto.
O copo ergue-se sozinho em direcção à minha boca
E eu reparo nisto e percebo isto
Apenas porque aconteceu.
Tenho este medo de tossir
mas não falo,
um medo de chuva, do cavaleiro
que cavalga para a minha boca.
O copo inclina-se sozinho
E eu estou em chamas.
Vejo dois finos fios a
queimarem-me o queixo.
Fui cortada em dois.
Ó Maria, abre as tuas pálpebras.
Estou no domínio do silêncio,
o reino dos loucos e dos adormecidos.
Há sangue aqui
E eu comi-o
Ó mãe do ventre
vim apenas pelo sangue?
Ó pequena mãe,
estou na minha própria mente.
Estou trancada na casa errada.
Anne Sexton
Para o ano dos loucos
uma oração
Ó Maria, frágil mãe,
ouve-me, ouve-me agora
embora eu desconheça as tuas palavras.
O rosário negro com o seu Cristo de prata
permanece por benzer na minha mão
porque eu sou a descrente.
Cada conta redonda e dura entre
os meus dedos,
um pequeno anjo preto.
Ó Maria concede-me esta graça,
esta passagem,
embora eu seja feia,
submersa no meu próprio passado
e na minha própria loucura.
Embora haja cadeiras
eu estendo-me no chão.
Apenas as minhas mãos estão vivas,
a tocar contas,
palavra a palavra, eu tropeço.
Uma iniciada, sinto a tua boca tocar a minha.
Conto contas como ondas,
a baterem sobre mim,
estou doente com o seus números,
doente, doente, no calor do verão
e a janela por cima de mim
é a minha única ouvinte, o meu ser estranho
ela é uma larga recebedora, uma mitigadora.
A dadora de respiração
ela murmura,
exalando o seu largo pulmão como um peixe enorme.
Cada vez mais perto
vem a hora da minha morte,
enquanto eu rearranjo a minha cara, volta a crescer,
cresce por desenvolver e com o cabelo liso.
Tudo isto é morte.
Na memória há um beco estreito chamado morte
E eu movo-me nele
como se fosse água .
O meu corpo não tem utilidade.
Jaz, enrolado como um cão na carpete.
Desistiu.
Não há palavras aqui senão as meio aprendidas,
o Avé Maria e o cheia de graça.
Agora entrei no ano sem palavras.
Anoto a entrada estranha e a voltagem certa.
Sem palavras elas existem.
sem palavras podemos tocar no pão
e ser-nos-á entregue pão
sem som.
Ó Maria, terna médica
vem com pós e ervas
Porque eu estou no centro.
É muito pequeno e o ar é cinzento
como numa casa de maquinas.
Dão-me vinho como dão leite a uma criança.
É apresentado num copo delicado com um bojo redondo e uma borda fina.
O vinho tem cor de breu, bafiento e secreto.
O copo ergue-se sozinho em direcção à minha boca
E eu reparo nisto e percebo isto
Apenas porque aconteceu.
Tenho este medo de tossir
mas não falo,
um medo de chuva, do cavaleiro
que cavalga para a minha boca.
O copo inclina-se sozinho
E eu estou em chamas.
Vejo dois finos fios a
queimarem-me o queixo.
Fui cortada em dois.
Ó Maria, abre as tuas pálpebras.
Estou no domínio do silêncio,
o reino dos loucos e dos adormecidos.
Há sangue aqui
E eu comi-o
Ó mãe do ventre
vim apenas pelo sangue?
Ó pequena mãe,
estou na minha própria mente.
Estou trancada na casa errada.
Anne Sexton
Monday, February 18, 2008
traduçao caseira da lebre
Veste uma camisa limpa antes de morrer, disseram alguns russos.
Por favor, nada com baba, nódoas de ovo, sangue
suor , esperma.
Queres-me limpa, Deus,
por isso vou tentar obedecer.
O chapéu com que me casei,
servirá?
Branco, largo com um pequeno bouquet de flores falsas.
É antiquado, com tanto estilo como um percevejo,
mas fica bem morrer em algo nostálgico.
E vou levar
a minha bata de pintar
lavada vezes sem conta, claro
manchada com cada cozinha amarela que pintei.
Deus, não te importas que eu leve todas as minhas cozinhas?
Elas contêm o riso da família e a sopa.
Como soutien
(precisamos de o mencionar?)
O preto acolchoado que irritava o meu amante
quando eu o despia.
Dizia “para onde foi tudo?”
E levarei
a saia de grávida do meu nono mês
uma janela para a barriga do amor
que deixou cada bebé sair como uma maçã,
as aguas a rebentar no restaurante,
fazendo uma casa barulhenta onde eu gostaria de morrer.
Como roupa interior escolherei algodão branco,
as cuecas da minha infância,
pois era uma máxima da minha mãe
que as meninas boas apenas usavam algodão branco.
Se a minha mãe tivesse vivido para o ver
teria posto um cartaz de “Procura-se” nos correios
para as pretas, vermelhas, azuis que eu usei.
No entanto, seria perfeitamente agradável para mim
morrer como uma boa menina
a cheirar a Clorox e a Duz.
Tendo dezasseis-anos-nas-cuecas
morreria cheia de perguntas.
Anne Sexton
Veste uma camisa limpa antes de morrer, disseram alguns russos.
Por favor, nada com baba, nódoas de ovo, sangue
suor , esperma.
Queres-me limpa, Deus,
por isso vou tentar obedecer.
O chapéu com que me casei,
servirá?
Branco, largo com um pequeno bouquet de flores falsas.
É antiquado, com tanto estilo como um percevejo,
mas fica bem morrer em algo nostálgico.
E vou levar
a minha bata de pintar
lavada vezes sem conta, claro
manchada com cada cozinha amarela que pintei.
Deus, não te importas que eu leve todas as minhas cozinhas?
Elas contêm o riso da família e a sopa.
Como soutien
(precisamos de o mencionar?)
O preto acolchoado que irritava o meu amante
quando eu o despia.
Dizia “para onde foi tudo?”
E levarei
a saia de grávida do meu nono mês
uma janela para a barriga do amor
que deixou cada bebé sair como uma maçã,
as aguas a rebentar no restaurante,
fazendo uma casa barulhenta onde eu gostaria de morrer.
Como roupa interior escolherei algodão branco,
as cuecas da minha infância,
pois era uma máxima da minha mãe
que as meninas boas apenas usavam algodão branco.
Se a minha mãe tivesse vivido para o ver
teria posto um cartaz de “Procura-se” nos correios
para as pretas, vermelhas, azuis que eu usei.
No entanto, seria perfeitamente agradável para mim
morrer como uma boa menina
a cheirar a Clorox e a Duz.
Tendo dezasseis-anos-nas-cuecas
morreria cheia de perguntas.
Anne Sexton
Wednesday, January 23, 2008
tradução caseira da lebre
não mais as doces metamorfoses de
uma menina de seda
sonâmbula agora na cornija da névoa
o seu despertar de mão a respirar
de flor que se abre ao vento
Alejandra Pizarnik
não mais as doces metamorfoses de
uma menina de seda
sonâmbula agora na cornija da névoa
o seu despertar de mão a respirar
de flor que se abre ao vento
Alejandra Pizarnik
Monday, January 7, 2008
tradução caseira da lebre
O resto já te disse.
Uns quantos anos de fluência, e depois
o longo silêncio, como o silêncio do vale
antes das montanhas devolverem
a própria voz mudada para voz da natureza.
Este silêncio é agora a minha companhia.
Pergunto. De que é que a minha alma morreu?
E o silêncio responde
Se a tua alma morreu, de quem é a vida
que estás a viver?
E quando é que te transformaste nessa pessoa?
Louise Glück
O resto já te disse.
Uns quantos anos de fluência, e depois
o longo silêncio, como o silêncio do vale
antes das montanhas devolverem
a própria voz mudada para voz da natureza.
Este silêncio é agora a minha companhia.
Pergunto. De que é que a minha alma morreu?
E o silêncio responde
Se a tua alma morreu, de quem é a vida
que estás a viver?
E quando é que te transformaste nessa pessoa?
Louise Glück
Thursday, January 3, 2008
Não, as palavras não fazem amor
fazem ausência
Se digo água, beberei?
Se digo pão,comerei?
Alejandra Pizarnik
fazem ausência
Se digo água, beberei?
Se digo pão,comerei?
Alejandra Pizarnik
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