Thursday, March 23, 2006

we are the famooooous five

A ilha Kirrin

Lia-os depois da viagem à cidade
sobre a cama, sobretudo em Junho e Julho
fechada a persiana que deixava filtrar
cheiro a damascos e pintura quente
e uma luz laminada verde escura
sobre a bicicleta e os páramos
sobre as mochilas, as quintas,
o pequeno almoço inglês, a ilha da Zé:
história fabulosa de uma infância
a ponto de se perder, porque uma vez lidas
todas as aventuras dos cinco
supus que tinha que crescer.
“De que serve ser criança, se mais tarde, em férias
nenhum barco te leva à ilha Kirrin?”
Talvez já suspeitava que os livros
podiam ser relógio ou calendário
exacto e enigmático do corpo.

Aurora Luque
(mais uma tradução caseira da lebre)

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Monday, March 6, 2006

mais uma traduçao caseira da minha Sexton


Estou no ringue
na cidade morta
e aperto os sapatos vermelhos.
Tudo o que estava calmo
é meu, o relógio com uma formiga a andar
os dedos dos pés alinhados como cães,
o fogão muito antes de ferver sapos,
a sala branca no inverno, muito antes das moscas,
a corça deitada no musgo muito antes da bala.
Eu aperto os sapatos vermelhos

Não são meus.
São da minha mãe.
E da mãe dela antes.
Entregues como relíquia familiar
mas escondidos como cartas vergonhosas.
A casa e a rua onde eles pertencem
estão escondidas e todas as mulheres, também,
estão escondidas

Todas as raparigas
que usaram sapatos vermelhos
cada uma embarcou um comboio que não pararia.
Estações voaram como pretendentes e não parariam.
Todas dançavam como truta num anzol.
Brincaram com elas.
Rasgaram as orelhas como alfinetes de segurança.
Os seus braços caíram e transformaram-se em chapéus.
As suas cabeças rolaram e cantaram pelas ruas.
E os seus pés - ó Deus, os seus pés no mercado -
os seus pés, aqueles dois escaravelhos, correram para a esquina.
Com certeza, exclamaram as pessoas,
com certeza que são mecânicos. Senão…

Mas os pés continuaram.
Os pés não conseguiam parar.
Estavam enroscados como uma cobra que vos vê.
Eram elásticos a puxar-se em dois.
Eram ilhas durante um terramoto.
Eram barcos a chocar e a afundar-se.
Eu e tu não importávamos.
Eles não podiam ouvir.
Eles não conseguiam parar.
O que eles fizeram era a dança da morte.

O que eles fizeram torná-los-ia.


Anne Sexton

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